ESPECIAL ZONA SUL
Daniela Fenti
Oásis da zona sul
Avenida Juscelino Kubitschek se destaca por atrair novos investimentos e projetos de alto padrão, voltados à população de maior poder aquisitivo de Rio Preto
Vista aérea da Avenida JK, em Rio Preto | Crédito: Rogério Parra/Divulgação
Por pelo menos três décadas, a Avenida Presidente Juscelino
Kubitscheck de Oliveira - ou “Av. JK”, simplesmente, em Rio Preto, foi tratada
como coadjuvante, um mero prolongamento da Avenida Bady Bassitt. Hoje, porém,
assume papel protagonista como uma das principais rotas da região Sul da
cidade, cenário de investimentos vultuosos no mercado imobiliário.
Só neste ano, mais de R$ 200 milhões devem ser
investidos em construções localizadas na própria avenida ou em suas imediações,
segundo dados apurados junto a empresários rio-pretenses. Nessa lista, entram condomínios
fechados de casas e apartamentos de altíssimo padrão e estabelecimentos
comerciais voltados, especialmente, a produtos de luxo e prestação de serviços
diferenciados ou exclusivos.
A coexistência de diferentes tipos de moradias e negócios
dão à JK um visual heterogêneo. Edifícios com traços contemporâneos dividem
espaço com prédios mais tradicionais, como a Braile Biomédica - indústria
pioneira do setor de cirurgia cardíaca e também uma das primeiras a se instalar
na avenida, no início dos anos 1990.
Outra característica que destaca a via às margens do
córrego Borá em relação a outros endereços importantes de Rio Preto é sua
capacidade de explorar o potencial financeiro da cidade para transformar vazios
urbanos em empreendimentos inovadores.
Estima-se que 80% do mercado de luxo rio-pretense esteja concentrado na região. “Notamos que a densidade demográfica ainda é baixa, mas a renda per capita é alta. Por isso, os serviços ‘premium’ da cidade têm se concentrado ali. Alguns segmentos, como o da gastronomia, que era, tradicionalmente, associado à Redentora, já começam a ganhar força na região”, aponta o arquiteto Daniel Alves Ribeiro.
Ribeiro é responsável pelos projetos da Brie Delicatessen, Melting Burgers e do BSC, da Tereos, instalados, recentemente, na JK, e também por outras obras em andamento, como o Euro Ville Residence e a nova sede do Grupo Zanon, que devem ser instalados a cerca de 100 metros da avenida nos próximos meses. Ele também faz parte da equipe por trás da criação de um mall, ainda em fase de estudo preliminar.
Com inauguração agendada para este mês, a Brie
Delicatessen vai oferecer menu sofisticado e um conceito que combina empório,
confeitaria e padaria. Segundo a empresária e diretora da Brie, Patrícia
Claudino, a região da JK foi escolhida devido a seu alto potencial de
crescimento. “Percebemos que os serviços não estavam acompanhando a demanda e
vimos a oportunidade de mercado, apostando em um serviço diferenciado”, diz.
O BSC, da Tereos, é um centro de serviços, inaugurado
este ano, com o objetivo de gerenciar os processos corporativos de todas as
unidades da companhia no Brasil, localizadas no estado de São Paulo,
principalmente, na região Noroeste Paulista.
Vale dizer que a tendência de crescimento e
desenvolvimento econômico da Avenida JK não é tão nova. Porém, essa
consolidação do endereço como reduto de espaços caros e sofisticados tornou-se
mais evidente nos últimos cinco anos, com a chegada do complexo Quinta do Golfe
à região Sul e do shopping Iguatemi.
Foi nesse período também que a TARRAF lançou e inaugurou
o Duo JK, condomínio residencial vertical com o conceito de “mixed use” das
metrópoles, baseado na concentração de serviços essenciais num único lugar. O empreendimento
é composto por duas torres residenciais, com diferentes metragens, além de um
centro de entretenimento no térreo, voltado a moradores e clientes externos,
que passou a incluir, em 2019, a nova sede da incorporadora responsável pela
obra.
Segundo o vice-presidente da TARRAF, Olavo Tarraf Filho,
a empresa vem mudando o foco de sua atuação. Embora siga com empreendimentos
populares ligados ao programa “Minha Casa, Minha Vida”, também tem olhado com atenção
para a classe média alta. Até o ano que vem, outros dois importantes projetos da
incorporadora devem sair do papel nas proximidades do Iguatemi, com valor geral
de vendas (VGV) de cerca de R$ 60 milhões cada.
Vista noturna do Duo JK, da TARRAF: empresa lança ainda este ano seu segundo empreendimento residencial na Avenida, o Montelena | Crédito: Daniel Torraca
Um deles, com lançamento para o segundo semestre, é o
Montelena by Tarraf. O nome é uma homenagem à famosa vinícola Chateau
Montelena, de Napa Valley, nos EUA. Serão duas torres residenciais de altíssimo
padrão, uma com apartamentos de 256,36 m² e outra com 342,50m², com preço
unitário na faixa de R$ 2 milhões, e uma série de comodidades dignas dos hotéis
cinco estrelas, como garagens preparadas para recarregar carros elétricos.
A ideia é competir com as casas de condomínios, e a estratégia parece caminhar bem. Cerca de 80% das unidades já estão pré-reservadas. “Rio Preto é uma das cidades mais horizontais que conheço. Porém, a tendência é que os terrenos fiquem escassos e o preço do metro quadrado, especialmente nas áreas nobres, suba. A solução, portanto, é a verticalização”, afirma Tarraf Filho.
Salsa Rooftop, um dos restaurantes do Duo JK Square, praça gastronômica que virou point da zona sul | Crédito: Daniel Torraca
Mobilidade e ‘luxo natural’ são diferenciais
Entre os principais atrativos da avenida estão sua
posição geográfica estratégica, uma vez que liga vários bairros e permite
acesso rápido e fácil a rodovias estaduais e federais, e os investimentos
gradativos em infraestrutura. “Acredito que a duplicação da BR-153 foi um dos
fatores que ajudaram a impulsionar essa transformação”, opina o arquiteto
Daniel Ribeiro.
A revitalização de praças, canteiros centrais e
jardins também tem contribuído nesse sentido, ao criar uma atmosfera de “luxo
natural”. Em 2017, a Praça Waldemar de Oliveira Verdi ganhou novos ares, por
meio de uma parceria entre a Prefeitura e as empresas Rodobens, que adotaram o
local batizado com o nome de seu fundador. O projeto contou com novos
equipamentos de ginástica, playground, bancos, pavimentação central,
arborização e paisagismo.
Outro projeto importante integrado à natureza é o
Parque Ecológico Walter Spotti, fruto de uma parceria entre a Prefeitura e a JL
Spotti. O empreendimento fica a uma quadra da JK, praticamente na divisa com o
muro do complexo Eco Village Residence, formado por dois condomínios
horizontais da incorporadora, lançados há mais de dez anos e responsáveis por
“desbravar” a porção final da avenida.
Conforme o diretor da empresa, Walter Spotti Neto, a ideia
é reflorestar uma área correspondente a três campos e meio de futebol até 2021.
“Nós doamos à cidade o plantio de 2.872 mil mudas de árvores nativas e o
cultivo delas durante 36 meses. A ideia é que, em um futuro próximo, tenhamos
um novo parque de convivência social”, diz.
A Prefeitura deve continuar investindo na estrutura da
região. De acordo com o secretário municipal de Planejamento Estratégico,
Ciência, Tecnologia e Inovação, Israel Cestari Júnior, será criada uma ciclovia
que começará no cruzamento entre a Rua Pedro Amaral e a Avenida Bady Bassitt e
passará por toda extensão da Juscelino Kubitscheck. A previsão de implantação
ainda não foi divulgada.
Jorge Luís de Souza, secretário municipal de
Desenvolvimento Econômico e Negócios de Turismo, acrescenta que, entre os
investimentos analisados para a região Sul que trazem impacto direto à JK,
estão a melhoria da drenagem urbana, que será realizada no Partec (Parque
Tecnológico), além de melhorias no traçado, como sinalização, recuperação do
asfalto e duplicação do acesso à BR-153. “Todo plano de mobilidade de Rio Preto
está sendo desenvolvido para a construção do contorno rodoviário, que
facilitará o deslocamento por toda a cidade. Os investimentos em infraestrutura
estão estimados em R$ 200 milhões.” (DF)
BSC, sede administrativa da empresa multinacional
Tereos no Brasil Crédito: Ferdinando Ramos