Mulheres Guerreiras

OUTUBRO ROSA
VIVI SAN MARTINO
FOTOS: MILTON FLÁVIO


Mulheres Guerreiras

No mês da campanha de conscientização e diagnóstico precoce do câncer de mama, duas mulheres falam da luta após a descoberta da doença


Determinação, autoestima e fé. Palavras determinantes na vida das mulheres que enfrentam o câncer o de mama, considerado um verdadeiro
pesadelo para a maioria delas.
Com diferença de 28 anos, Hellen Cristina da Cruz Hadykian Almeida e Myrian Teodoro vivenciaram as mesmas sensações, desde a descoberta da doença. De forma paralela à luta e ao tratamento, os medos, as incertezas e os desafios, até à superação. Helen tinha apenas 22 anos quando realizou o autoexame e sentiu um nódulo no seio esquerdo. “Certo dia, após o banho, notei que havia algo errado. Procurei por um médico mastologista e iniciei os exames, mas não foi possível ter um laudo exato do que se tratava. Após muita conversa e explicação do médico, resolvemos, então, retirar o nódulo por meio de uma intervenção cirúrgica e enviar para análise. Sempre me mantive confiante, mas, 15 dias depois, chegaram os resultados, o que me deixou totalmente perturbada, pois o tumor era maligno. Fiquei apavorada, com medo, angustiada. SEM LEGENDA
Meu mundo havia desmoronado naquele momento. Todas as expectativas que eu tinha e todos os meus sonhos acabaram-se. Afinal eu tinha apenas 22 anos. Meu maior medo era não poder mais conviver com as pessoas que eu mais amava. Em contrapartida, escolhi enfrentar o meu maior desafio em relação ao câncer de mama, ou seja, eu mesma. Sozinha, teria que vencer meus medos, descobrir um mundo onde eu jamais imaginei fazer parte. Foi então que eu decidi que iria me informar sobre possíveis tratamentos e ir à luta. Não me permitiria desistir, nem abaixar a cabeça. Muitas coisas ruins passavam pela minha mente, em meio a todo esse processo, mas decidi que eu seria mais forte e que meu pensamento seria positivo o tempo todo. Foi então que o médico me orientou que o tratamento, no meu caso, seria a mastectomia das mamas, seguidas, possivelmente, de sessões de radiologia. Durante todo esse processo estive muito em paz comigo mesma, mantive a mente tranquila e positiva, e como sempre tive muita fé em Deus, ele foi o meu refúgio o tempo todo. Isso fez toda a diferença. Tive todo amparo dos médicos, familiares, amigos, mas nada disso adiantaria se eu tivesse perdido a fé, pois dependia apenas de mim para encarar meus medos, os obstáculos e vencê-los. Quando entrei na sala de cirurgia para realização da mastectomia, não sabia ainda o que aconteceria, mas me sentia serena, minha mente e meu corpo estavam em sintonia. Ali, tive a certeza de que tudo daria certo. Foi a fase mais difícil, mas Deus ouviu minhas orações e graças a Ele não foi preciso realizar nenhuma sessão de radioterapia. Enfim, todo aquele pesadelo estava passando. Hoje já se passaram três anos. Quando olho para trás e vejo tudo o que passei, sinto orgulho, gratidão e felicidade por estar recuperada. Minha família e meu namorado, atualmente marido, me deram muito apoio, ficaram do meu lado e foram essenciais na minha vida. Tive o apoio de muitos amigos também e isso fez toda a diferença.”
SEM LEGENDAAcostumada a consultar, periodicamente, o ginecologista, sempre acompanhada das filhas, Myrian Teodoro descobriu que estava com câncer de mama em julho de 2014, depois do pedido de mamografia de seu médico. “Imediatamente fui encaminhada para um mastologista cirurgião, que me pediu sessões de quimioterapia. Aí sim, ‘perdi o chão’. Achava que quem fazia quimioterapia já estava com a doença em estágio avançado. Na época, eu e minhas filhas não sabíamos quase nada sobre a doença, e como elas estavam sempre presentes, fomos aprendendo juntas sobre o caso. Foram marcadas várias sessões de quimioterapia, quatro delas, antes da cirurgia. Apesar de algumas críticas de colegas, acabei raspando a cabeça antes que os fios começassem a cair, pois acredito que o impacto ’visual’ da queda dos cabelos nos remete a uma sensação de degradação. Mas em nenhum momento me senti feia, ou me senti doente. As sessões de quimioterapia foram tranquilas, porém, a dificuldade maior vem das reações de cada organismo, que reage a sua maneira. Não consegui fugir das ânsias, das fraquezas, das tonturas, da falta de paladar e das dores no corpo. Mas não me deixei abater. Fiz uma dieta alimentar bem controlada para não ter queda de resistência e imunidade, assim, e consequentemente, mantive-me bem e sem aparência de uma pessoa debilitada. No dia 5 de dezembro, foi marcada minha cirurgia, que seria realizada no dia 22 do mesmo mês, em plena semana do Natal. A princípio, um choque para a minha família. Pelos exames, teria que extrair a mama esquerda, mas, como já tive um histórico de nódulos na direita, juntamente com o médico e minhas filhas, resolvi fazer a mastectomia bilateral total (retirada das duas mamas) e a reconstrução das mesmas. Senti muito medo da anestesia, mas em nenhum momento me fiz aquela famosa pergunta: ‘Por que eu?’. Simplesmente, porque acho que tudo pode acontecer com qualquer um de nós.Encarei como uma vivência das diversas que a vida nos apresenta, até porque eu estava com um ‘problema’, possível de recuperação e não me sentia doente. Então encarei como qualquer outra coisa a ser resolvida. Não é nada fácil e nem agradável, precisava resolver e ‘cortar o mal pela raiz’. O que mudou? Minha fé tornou-se maior, acho que foi uma puxada de orelha do ‘Cara lá de cima’, mostrando-me que temos que confiar sempre, pois o pior já passou. Mas, sinceramente, durante todo esse processo, digo que a minha maior dificuldade foi contar sobre a doença para os meus pais e meus irmãos. Hoje, eu digo que família igual a minha não existe neste mundo. Fiquei muito frágil e carente, e eles foram tudo pra mim. Agradecê-los é pouco, pois em nenhum momento me deixaram só. Os amigos também foram fundamentais durante todo o período da minha fragilidade, pois muitos compreenderam a gravidade, não julgaram minhas atitudes e, principalmente, acolheram-me com elogios, atenção e oração.”
Para lembrar sobre a importância do autoexame e do descobrimento precoce da doença, no mês de outubro, comemora-se o Outubro Rosa, movimento que se tornou popularmente conhecido, no mundo inteiro, como prevenção do câncer de mama. A popularidade da data alcançou, diversos países, de forma elegante e feminina, unindo povos nessa causa nobre e motivando mulheres de todo o mundo a procurarem mais informações sobre a doença.