Rafael Pierini


Psicologia – Uma ciência inserida no Futuro

Considerando a Psicologia como uma ciência nova de aproximadamente apenas 150 anos e tendo como material de estudo diversos aspectos subjetivos e não palpáveis foi desafiante a ela demonstrar-se como ciência consistente, passível de quantificações, análise de eficácia e um distanciamento de qualquer característica placebo, espiritual ou de pseudociência.Desde os primeiros laboratórios e teorias de Psicologia no início do século XX e durante toda sua história o desejo de organizar os comportamentos humanos e seus padrões de pensamento foram a força motriz para o desenvolvimento dessa ciência que no atual século tem conquistado cada vez mais seu digno foco e importância.

Em uma sociedade cada vez mais complexa, acelerada e em transformação ampliar o conhecimento acerca desse ser social, sua inserção e o espectro que os comportamentos criam é necessário para continuarmos evoluindo e avançando. Um exemplo dessa urgência pode ser demonstrado com o fato de termos conseguido em nossa evolução o feito de ampliarmos nossa expectativa de vida, sendo só nos últimos 50 anos uma ampliação de aproximadamente 10 anos a mais de vida, algo fantástico e que indicaria que estamos caminhando para alcançar talvez um dos maiores desejos humanos, uma grande longevidade ou até mesmo driblarmos a morte; mas nossas mentes e os comportamentos resultantes dela tem caminhado para talvez alcançarmos uma diminuição em nossa expectativa de vida muito em virtude de nossos hábitos alimentares, obesidade e restrições sociais.

A emergência de entender cientificamente a sociedade, os comportamentos, o cérebro e os conceitos de saúde fizeram com que a Psicologia nos últimos anos tivesse grande salto em estudos e pesquisas. As terapias cognitivas e as neurociências têm oferecido a base palpável e concreta para saltos científicos e denotação da importância da compreensão dos processos psíquicos, sendo cada mais relevante saúde mental em nossa sociedade. O conceito de saúde como apenas bem estar biopsicossocial ou ainda saúde como ausência de doenças está cada vez mais em descrédito, sendo necessário olhares mais integrativos e que tenham como base a construção de uma saúde profilática, ou seja, preventiva, que oferecesse recursos a fim de diminuir as possibilidades de adoecimento tanto mental quanto as demais doenças. Técnicas de neuroimagem e genética (em especial a epigenética) tem cada vez mais sustentado e oferecido bases métricas ao comportamento, caminhando (ainda não conquistado) em direção a contextos de prevenção de doenças, análise de criminalidade, predisposição ao desenvolvimento de patologias, ampliação da inteligência artificial e quem sabe anteceder potenciais comportamentos prejudiciais, quase como no filme Miniroty Report, onde criminosos eram presos antes de cometerem os crimes. Dentro desse contexto criminoso já existem evidências de alterações estruturais e fisiológicas nos cérebros de assassinos, serial killers, corruptos e psicopatas, vale ressaltar que essas evidências ainda não sustentam decisões jurídicas e nem podem ser aplicadas com 100% de certeza.

Além das pesquisas realizadas em cérebros de grupos específicos, como dos assassinos, os estudos de neuroimagem têm demonstrado consistentes diferenças na neuroplasticidade (seria mais ou menos o modo como o cérebro se organiza e reorganiza) de pessoas submetidas a processos psicoterápicos dentro das terapias cognitivas. As diferenças mostram melhor organização dos sistemas emocionais, de pensamento racional/tomadas de decisão e em zonas responsáveis pelos diversos aspectos da memória. O número dessas pesquisas põe por terra qualquer descrença de que um processo terapêutico seja “apenas conversar”, sendo que para determinadas patologias os resultados da psicoterapia são semelhantes à de algumas medicações ou ainda potencializam a eficácia dos fármacos.

Sobre os fármacos a ideia não é uma guerra contra eles, mas sim seu uso ser mais direcionado e individualizado aos indivíduos e aquilo que puder esclarecer ou potencializar seus mecanismos de efeito deverá ser estudado e assim que puder ser utilizado pensando sempre na ampliação do conceito de saúde integrativa.

Genética, Medicina, Farmácia, Nutrição, Neurociências e Psicologia são alguns desses braços em prol de um corpo mais são e melhor investigado. Maconha de alta potência aumenta chances de desenvolvimento de esquizofrenia e traz prejuízos cognitivo; países com alto consumo de peixes tem menores índices de violência, pois seus cérebros são mais “protegidos” pelo consumo de Omega 3; psicopatas que cometem violência sexual tem maiores chance de reincidência e maior variabilidade de crimes; esses são apenas alguns tópicos e assuntos de como essa integração cientifica tem avançado em prol de comportamentos e de uma sociedade mais prevenida em relação à saúde. No caminhar da humanidade a Psicologia terá um papel de relevância, tanto por seu objeto de estudo, quanto também por ser uma ciência individual, quase que artesanal, não sendo por hora, facilmente substituída por uma inteligência artificial ou por qualquer tipo de máquina. Aliás, dentro de saúde os conceitos tecnológicos têm se desenvolvido como grandes aliados ao diagnóstico preciso e se possível precoce, bem como ao adequado processo interventivo, e o contínuo estudo sobre o processamento humano e seu respectivo comportamento fazem parte desses processos, não sendo possível pensarmos em um futuro onde as ações humanas sejam vistas como algo simplista e sem uma análise científica e profunda, e dentro desse aspecto a Psicologia terá um papel importante.


SEM LEGENDA

Rafael Pierini Neuropsicólogo -Psicoterapeuta CRP 06/98990